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sábado, 6 de março de 2010

TRIBUTO AO TONINHO, AMIGO DO TONI SEABRA

Amigo Pedro Baleiro,




Tenho, em nossas deliciosas e longas conversas, muitas vezes mencionado meu amigo Anotnio Moutinho, que infelizmente "subiu mais cedo pro andar de cima", onde deve estar guiando em derrapagens quase impossiveis alguma coisa que possa andar "atravessado".



Toninho, como os amigos o conheciam, era um daqueles caras dotados de uma habilidade natural muito acima da media, e que não precisava de muito treino para levar um carro desconhecido ao seu extremo limite. Guiava no limite qualquer coisa, da Mercedes sedã da mãe ao fusca 1300 careta do pai, passando por Fuscas e Pumas brabos, Mavericks, Passats e Dodginhos de D1, sempre com o mesmo entusiasmo e no mesmo ritmo alucinante. Sempre com uma naturalidade, e de uma forma tão descontraida, que, mesmo andando no no fio da navalha, como só os "sobrenaturais" conseguem, parecia estar guiando uma "banheira" americana num passeio de domingo pela orla do Rio



Infelizmente ( e eu repito esta palavra muitas vezes quando me refiro a ele) foi um talento desperdiçado, dado que, apesar da paixão pelos carros e pelo automobilismo de competição, nunca se dedicou de corpo e alma ao esporte. Talvez em função de sua habilidade invejável, não treinava , não experimentava, não "suava a camisa" em busca de tempo. Ia lá, dava duas ou tres voltas, reclamava que o carro estava uma merda, marcava um tempo inimaginavel para o equipamento que tinha nas mãos, e voltava rindo...tirando sarro da cara de espanto dos simples mortais. Mas nao tinha o "sangue nos olhos" pra ficar lá macerando volta em cima de volta, mexendo e melhorando a "barata", experimentando traçados, pontos de freada, etc, em busca daqueles decimos de segundo a mais que fazem a diferença e definem os vencedores.



Infelizmente, depois de tres ou quatro voltas ele sabia que ninguém, nem ele mesmo, iria melhorar o tempo feito com o carro do jeito que estava. Então, não se preocupava em melhorar o meio mecanico, não porcurava buscar os possiveis pontos onde poderia melhorar o carro pra ir buscar os decimos que faltavam.



Infelizmente, apesar da paixão, correu esporadicamente, a grandes intervalos, e com carros cada vez mais dispares entre si, o que não permitia uma progressão constante, quer seja da maquina ou do proprio piloto.



Infelizmente, cedeu as outras paixões e outros prazeres da vida, preferindo dar atenção a namorada, depois esposa, aos filhos e a vida em familia, em detrimento de uma carreira de piloto ainda que fosse de maneira "semi-profissional". Apesar de ter recursos financeiros pra preparar bons carros, que poderiam leva-lo a vencer corridas, e a ter se tornado mais conhecido.



Infelizmente , se satisfazia em receber elogios de pilotos vencedores, como aconteceu mais de uma vez, quando teve sua habilidade reconhecida por pilotos de renome, como Paulo Gomes, Mauricio Chulam e Giu Ferreira.



O Claudinho Drummond, outro grande amigo nosso, pesquisou nos seus arquivos fotograficos e garimpou algumas raridades, importadas diretamente da humilde tele 105 mm Vivitar de sua Miranda SLR, que nós sacaneavamos chamando de "Mirinda" (refrigerante de limão que o smais velhos, como nós, beberam algum dia). Todas as fotos foram tiradas no autodromo do Rio.



Algumas das fotos são de uma prova de estreantes de 1970, com o fusca numero 7, que era o carro de rua dele. Tinha um motorzinho 1600cc bem ajustadinho pelo Wilson Masid, um mago dos VW, mas não tinha nenhum trabalho de suspensão e o "chão" dependia fundamentalmente do "braço" do Toninho. Em algumas destas fotos aparece junto o Fusca de um portugues chamado Chico Pinto, que tinha um "monte de motor". E até aparece de relance, talvez em foto de treino, o conhecido fusca 52 de um cara chamado Pedro Baleiro, conhece ele ? rs,rs,rs., Este era um carro muito mais elaborado e o Pedro andava na ponta, cmos todos sabem. Pela altura da suspensão da pra perceber que o carro do Toninho não tinha qualquer preparo de "chão", a não ser a traseira um pouco rebaixada e os amortecedores traseiros de Kombi (depois eram de C14).




Antonio "Toninho" Moutinho



Outras fotos, com o Fuscão 1500 71 azul , std, do pai dele, que ele equipou com rodas do tipo das originais porem com tala ligeiramente maior (5,5) e pneus radiais Pirelli Cinturatto, de medida errada, pois eram 165 em vez dos 155, sendo grandes demais naquelas rodas. Logo, estes pneus "alongavam" o carro e dobravam muito nas curvas. Na hora dessas fotos, tiradas no S do autodromo, eu estava do lado direito e assisti "de camarote" a um inesquecivel show de pilotagem. As fotos dão bem uma ideia (ainda que palida) da tocada infernal do cara.









Nas outras fotos, com o Puma branco, também em 71, não não dá pra perceber o quão forte ele andou nesse dia, apesar de não ter experiencia com o carro, comprado dias antes. Apesar do capo traseiro aberto e do motor original, após 3 voltas o motor "abriu o bico": devido a grande inclinaçao do carro nas curvas, faltou oleo no "copinho" (original) e o motor bateu por falta de lubrificação. A expressão de desconsolo do Toninho , sentado em cima do capo, diz tudo...Era assim que ele desanimava, sempre, ao primeiro revés. Infelizmente.





Tivesse qualquer um de nós, que o tivemos como amigo a habilidade excepcional que ele tinha e a condição financeira de que ele dispunha para investir em carros que poderiam ser bastante razoáveis (nunca o foram...), certamente teria vencido corridas e inscrito o nome na historia do automobilismo brasileiro. Coisa que ele merecia e deveria ter feito, mas, não sei bem porque, não logrou atingir.



Fica aqui o meu tributo a um dos maiores talentos que vi guiar um carro de turismo, mas que não chegou a demonstrar isto pra muita gente. Quem o conheceu, quem o viu guiar, sabe do que eu estou falando.



Grande Abraço Amigo, onde voce estiver.



Antonio Seabra

5 comentários:

Claudio Drummond disse...

Além de grande amigo, nós éramos compadres, fui padrinho de casamento e do primogênito dele. Não que ele fosse mais meu amigo do que do Antonio Seabra, mas nos conhecíamos há mais tempo. Toninho, além das virtudes já desfiadas pelo Antonio, foi um cara totalmente desapegado de coisas materiais. Não se furtava nos emprestar carros, moto, grana, etc, quando sabia que precisávamos (quase sempre). Por isso, Pedro, te agradeço por abrir espaço no seu Blog para essa homenagem ao nosso amigo, valeu !

Unknown disse...

Claudio, eu é que agradeço a vocês que me ajudam a contar um pouquinho da história do nosso automobilismo.
Um abraço, e dispónha do espaço.

Alfredo Britto disse...

Caro Toni,
realmente, pelas fotos dá para perceber que o seu amigo guiava MUITO. Nas fotos com os volkswagen, praticamente originais, sente-se a sensação de velocidade, o quanto vinha dependurado mas rápido. Belas imagens. Curta a saudade do amigo com muita emoção. Abração, Alfredo.

Sidney Cardoso disse...

Antonio Seabra
Desculpe-me só hoje estar comentando essa sua matéria.
Eu havia lido essa sua emocionante homenagem ao Antonio Moutinho, sinceramente ela me contagiou!

Não comentei antes devido ter ficado com o tempo um pouco apertado, quando li senti uma vontade imensa de me aprofundar. Preferi escrever quando tivesse mais tempo para tratá-la com o respeito que você e ele merecem. Não queria escrever superficialmente. Entende?

Vamos lá, essas são minhas modestas conclusões, mas posso estar errado:

1- Você e o Claudio Drummonnd haviam me falado do talento do rapaz e pelas fotos dá para comprovar.

2 - Piloto bom é assim mesmo, dá umas três voltas no carro e já da para sentir seu limite, idem quando está testando uma nova regulagem ou um kit novo. Essa de ficar treinando muito tempo é para futebol que é um esporte coletivo.

3- Há, porém, uma grande diferença quando uma pessoa está lançando um carro novo para por à venda, um Fórmula Vê, por exemplo. Nesse caso o construtor fica o dia todo e mais outros dias testando equipamentos, regulagens, etc.

4 - Você usou bastante a palavra infelizmente, entendi perfeitamente o significado que você quis dar, porém creio que foi apenas uma questão de diferença de valores, ou seja, para o Antonio Moutinho pareceu-me que seu maior valor, sua preferência, era estar ao lado de sua família, embora ele próprio fosse sabedor de sua rara habilidade, me compreende?

Talvez ele já intuísse que caso se profisssionalizasse teria que ficar tempos distante da família.

Quando li seu comentário, na hora, veio-me à mente uma passagem no livro Ciência do Ser e Arte de Viver de Maharishi Mahesh Yogi, o fundador da Meditação Transcendental e deixei para postar com mais calma, para poder pegar o livro e deixar aqui para você um resumo de uma de suas partes que pareceu-me se encaixava perfeitamente com o modo de viver do Antonio Moutinho.

Foi essa parte: [...Se uma abelha voa de lá para cá à procura de uma flor melífera, não deveríamos pensar que voar é sua natureza. Ela voa com o objetivo de fixar-se a uma flor, e a abelha voará enquanto não encontrar uma flor contendo néctar. Mas assim que a encontra, pousa sobre a flor...]

[...A mente vagueia da mesma maneira, mas não vagueia por natureza.Ela vagueia porque não encontra um lugar de descanso ou um meio para a felicidade. A mente não é como um macaco, ela é antes como um rei...]
[...Se vemos um rei viajando por seu domínio, será errado concluir que viajar é sua natureza. Ele viaja apenas na falta de um trono sobre o qual assentar-se. Na ausência de uma sede adequada - um trono - o rei continua sua viagem...]

Volto a lembrá-lo, posso estar redondamente enganado, e muitas vezes estou, mas pareceu-me que o Antonio Moutinho sabia de seu talento, porém seu desejo maior era ficar junto a sua família.
Caso seja esse o caso, creio que agora você tem motivo de sobra para transmutar a tristeza que vinha sentindo por ele não ter se profissionalizado em uma enorme alegria e se comprazer com a decisão dele. Quem sabe se lá do andar de cima ele não estará te dando um enorme sorriso?
Forte abraço.

Antonio Seabra disse...

Sidney,

Obrigado pelas belas palavras e pelo tempo dedicado.
O 'infelizmente' foi usado muitas vezes de proposito, sempre no sentido automobilistico, e não das prioridades de vida dele.
Siceramente, acho que ele gostaria de ter corrido muito mais vezes, e de ter feito pelo menos uma temporada inteira, em alguma categoria. Ele varias vezes expressou esse desejo. Mas teve que o optar e fez a escolha dele.

Grande abraço.

Antonio